sexta-feira, 15 de abril de 2011

Aula de 19 de abril

Manuel Bandeira: Testamento

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros - perdi-os...
Tive amores - esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!


Manuel Bandeira: O cacto

Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro
horas
privou a cidade de iluminação e energia:
- Era belo, áspero, intratável.


Vinícius de Moraes: Saudade de Manuel Bandeira

Não foste apenas um segredo
De poesia e de emoção
Foste uma estrela em meu degredo
Poeta, pai! áspero irmão.

Não me abraçaste só no peito
Puseste a mão na minha mão
Eu, pequenino – tu, eleito
Poeta, pai! áspero irmão.

Lúcido, alto e ascético amigo
De triste e claro coração
Que sonhas tanto a sós contigo
Poeta, pai, áspero irmão?


Manuel Bandeira: “Resposta a Vinícius”

Poeta sou; pai, pouco; irmão, mais.
Lúcido, sim; eleito, não.
E bem triste de tantos ais
Que me enchem a imaginação.
Com que sonho? Não sei bem não.
Talvez com me bastar, feliz
– Ah feliz como jamais fui! –
Arrancando do coração
– Arrancando pela raiz –
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.


Carlos Drummond de Andrade: “O chamado”

Na rua escura o velho poeta
(lume de minha mocidade)
já não criava, simples criatura
exposta aos ventos da cidade.

Ao vê-lo curvo e desgarrado
na caótica noite urbana,
o que senti, não alegria,
era, talvez, carência humana.

E pergunto ao poeta, pergunto-lhe
(numa esperança que não digo)
para onde vai — a que angra serena,
a que Pasárgada, a que abrigo?

A palavra oscila no espaço
um momento. Eis que, sibilino,
entre as aparências sem rumo,
responde o poeta: Ao meu destino.

E foi-se para onde a intuição,
o amor, o risco desejado
o chamavam, sem que ninguém
pressentisse, em torno, o chamado.


Luís de Camões: Tanto de meu estado...

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Francesco Petrarca: Soneto CXXXIV

Pace non trovo e non ho da far guerra
e temo, e spero; e ardo e sono un ghiaccio;
e volo sopra 'l cielo, e giaccio in terra;
e nulla stringo, e tutto il mondo abbraccio.

Tal m'ha in pregion, che non m'apre né sera,
né per suo mi ritèn né scioglie il laccio;
e non m'ancide Amore, e non mi sferra,
né mi vuol vivo, né mi trae d'impaccio.

Veggio senz'occhi, e non ho lingua, e grido;
e bramo di perir, e chieggio aita;
e ho in odio me stesso, e amo altrui.

Pascomi di dolor, piangendo rido;
egualmente mi spiace morte e vita:
in questo stato son, donna, per voi.


Tradução (quase literal) de Antonio Cicero

Paz não encontro e nem me quer a guerra;
E temo e espero e ardo e sou gelado
E vôo sobre o céu e jazo à terra;
E nada aperto, e o mundo todo abraço.

Quem me prende não larga nem encerra,
Nem por seu me retém nem abre o laço;
E nem me mata Amor nem me liberta,
Nem me quer vivo nem quer meu trespasso.

Vejo sem olhos, sem ter língua grito;
E anseio por morrer, e peço ajuda;
E me odeio a mim mesmo e amo a sós.

De dor me alimento, chorando rio;
Igualmente desprezo a morte e a luta:
E neste estado estou, mulher, por vós.


Ungaretti: Mattina

M’illumino
d’immenso

Tradução de Sergio Wax:

Ilumino-me
de imenso


Carlos Drummond de Andrade: Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade: Carta

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.


Cruz e Souza: Vida obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!


Carlos Drummond de Andrade: Oficina irritada

Eu quero compor um soneto duro
Como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
Seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
Não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
Ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
Há de pungir, há de fazer sofrer,
Tendão de vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
Cão mijando no caos, enquanto arcturo,
Claro enigma, se deixa surpreender.


Ferreira Gullar: A galinha

Morta
Flutua no chão.
Galinha.

Não teve o mar nem
quis, nem compreendeu
aquele ciscar quase feroz. Cis-
cava. Olhava o muro,
aceitava-o, negro e absurdo.

Nada perdeu. O quintal
não tinha
qualquer beleza.
Agora
as penas são só o que o vento
roça, leves.
Apagou-se-lhe
toda a cintilação, o medo.
Morta. Evola-se do olho seco
o sono. Ela dorme.
Onde? Onde?


Carlos Drummond de Andrade: Coração numeroso

Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Havia a promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.

Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.

Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.


Eugénio de Andrade: Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos, e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.


Paulo Leminski: Adeus, coisas que nunca tive

Adeus, coisas que nunca tive,
dívidas externas, vaidades terrenas,
lupas de detetive, adeus.
Adeus, plenitudes inesperadas,
sustos, ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus, que lá se vão meus ais.
Um dia, quem sabe, sejam seus,
como um dia foram dos meus pais.

Adeus, mamãe, adeus, papai, adeus,
adeus, meus filhos, quem sabe um dia
todos os filhos serão meus.
Adeus, mundo cruel, fábula de papel,
sopro de vento, torre de babel,
adeus, coisas ao léu, adeus.


Antonio Cicero: Diamante

O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra: diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita, e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.


Duda Machado: A um apostador

pra mim
o páreo
é dentro

corro
por fora

(aéreo,
atento)

e fim.


Jorge Luís Borges: Límites

Hay una línea de Verlaine que no volveré a recordar,
Hay una calle próxima que está vedada a mis pasos,
Hay un espejo que me ha visto por última vez,
Hay una puerta que he cerrado hasta el fin del mundo.
Entre los libros de mi biblioteca (estoy viéndolos)
Hay alguno que ya nunca abriré.
Este verano cumpliré cincuenta años:
La muerte me desgasta, incesante.

Tradução de Antonio Cicero: Limites

Há uma linha de Verlaine que não voltarei a recordar,
Há uma rua próxima que está vedada a meus passos,
Há um espelho que me viu pela última vez,
Há uma porta que fechei até o fim do mundo.
Entre os livros de minha biblioteca (estou vendo-os)
Há algum que já nunca abrirei.
Este verão cumprirei cinqüenta anos:
A morte me desgasta, incessante.


Jorge Luís Borges: El suicida

No quedará en la noche una estrella.
No quedará la noche
Moriré y conmigo la suma
Del intolerable universo.
Borraré las pirámides, las medallas,
Los continentes y las caras.
Borraré la acumulación del pasado.
Haré polvo la historia, polvo el polvo.
Estoy mirando el último poniente.
Oigo el último pájaro.
Lego la nada a nadie.

Tradução de Antonio Cicero: O suicida

Não ficará na noite uma estrela.
Não ficará a noite.
Morrerei e comigo a suma
Do intolerável universo.
Apagarei as pirâmides, as medalhas,
Os continentes e as caras.
Apagarei a acumulação do passado.
Farei pó a história, pó o pó.
Estou olhando o último poente.
Ouço o último pássaro.
Lego o nada a ninguém.


Federico Garcia Lorca: Malagueña

La muerte
entra y sale
de la taberna.
Pasan caballos negros
y gente siniestra
por los hondos caminos
de la guitarra.
Y hay un olor a sal
y a sangre de hembra,
en los nardos febriles
de la marina.
La muerte
entra y sale
y sale y entra
la muerte
de la taberna

Tradução de William Agel de Melo: Malaguenha

A morte
entra e sai
da taberna.
Passam cavalos negros
e gente sinistra
pelos fundos caminhos
da guitarra.
E há um cheiro de sal
e de sangue de fêmea
nos nardos febris
da beira-mar.
A morte
entra e sai,
e sai e entra
a morte
da taberna.


T.S. Eliot: Ash Wednesday


I
Because I do not hope to turn again
Because I do not hope
Because I do not hope to turn
Desiring this man's gift and that man's scope
I no longer strive to strive towards such things
(Why should the aged eagle stretch its wings?)
Why should I mourn
The vanished power of the usual reign?

Because I do not hope to know again
The infirm glory of the positive hour
Because I do not think
Because I know I shall not know
The one veritable transitory power
Because I cannot drink
There, where trees flower, and springs flow, for there is nothing again

Because I know that time is always time
And place is always and only place
And what is actual is actual only for one time
And only for one place
I rejoice that things are as they are and
I renounce the blessed face
And renounce the voice
Because I cannot hope to turn again
Consequently I rejoice, having to construct something
Upon which to rejoice

And pray to God to have mercy upon us
And pray that I may forget
These matters that with myself I too much discuss
Too much explain
Because I do not hope to turn again
Let these words answer
For what is done, not to be done again
May the judgement not be too heavy upon us

Because these wings are no longer wings to fly
But merely vans to beat the air
The air which is now thoroughly small and dry
Smaller and dryer than the will
Teach us to care and not to care
Teach us to sit still.

Pray for us sinners now and at the hour of our death
Pray for us now and at the hour of our death.



Tradução de Ivan Junqueira:
Quarta-feira de cinzas

I
Porque não mais espero retornar
Porque não espero
Porque não espero retornar
A este invejando-lhe o dom e àquele o seu projeto
Não mais me empenho no empenho de tais coisas
(Por que abriria a velha águia suas asas?)
Por que lamentaria eu, afinal,
O esvaído poder do reino trivial?

Porque não mais espero conhecer
A vacilante glória da hora positiva
Porque não penso mais
Porque sei que nada saberei
Do único poder fugaz e verdadeiro
Porque não posso beber
Lá, onde as árvores florescem e as fontes rumorejam,
Pois lá nada retorna à sua forma

Porque sei que o tempo é sempre o tempo
E que o espaço é sempre o espaço apenas
E que o real somente o é dentro de um tempo
E apenas para o espaço que o contém
Alegro-me de serem as coisas o que são
E renuncio à face abençoada
E renuncio à voz
Porque esperar não posso mais
E assim me alegro, por ter de alguma coisa edificar
De que me possa depois rejubilar

E rogo a Deus que de nós se compadeça
E rogo a Deus porque esquecer desejo
Estas coisas que comigo por demais discuto
Por demais explico
Porque não mais espero retornar
Que estas palavras afinal respondam
Por tudo o que foi feito e que refeito não será
E que a sentença por demais não pese sobre nós

Porque estas asas de voar já se esqueceram
E no ar apenas são andrajos que se arqueiam
No ar agora cabalmente exíguo e seco
Mais exíguo e mais seco que o desejo
Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo
Ensinai-nos a estar postos em sossego.

Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte
Rogai por nós agora e na hora de nossa morte.

6 comentários:

  1. SONETO EM VERMELHO

    De vermelho pintei os meus sapatos
    e enlouquecida, sem parar, dancei.
    Depois vesti meus gestos insensatos:
    um Valentino, que sem querer, roubei.

    Como Cildo, do vermelho fiz a arte
    que deflora de dentro para fora.
    Sedenta de sangue, invejei Marte.
    Louvei a cor dos olhos de quem chora.

    No Sexto Dia, diabos criei.
    Gostei do que vi, não mais descansei.
    Viver e morrer diante do espelho!

    Criar maçãs, vulcões, feras famintas;
    navegar em rios de rubras tintas
    que vermelhos choram no Mar Vermelho.





    SONETO EM AMARELO

    Então, pintei de amarelo os teus dias
    ao som de um movimento para cello.
    Música também pintada, ouvias,
    mas nunca de tom qualquer...Amarelo!

    Pinto, repinto, sem temer a cor.
    Leio As Páginas, bebendo egg nog,
    e os covardes defendo com ardor.
    Brindemos à loucura de Van Gogh!

    Nos hematomas quase de partida,
    pintados em nuance indefinida,
    a melhor transição do roxo ao belo.

    Febre tropical, a cor te faz jus.
    Quanto às gemas, o amarelo propus.
    E ao milho, ao farelo...Amarelo!

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  2. sobre o amor

    É preciso habitar a solidão -
    ver o relevo das crises sanadas;
    fundo escavar na razão as camadas,
    volvendo toda a poeira do chão.

    É preciso habitar a solidão -
    banhar-se nas águas do mesmo rio;
    sentir toda a resistência do frio,
    cortando com os pés o turbilhão.

    Pode então esse amor tornar-se vão
    quando não só a ferro e fogo queima?
    Contudo, pode contra tudo e teima
    só sendo, encantamento e construção.

    --------------------------------------

    este outro, é um poema que escrevi em "versos livres" no ano passado e agora (exatamente um ano depois) tentei colocá-lo em decassílabos:

    Tsunami

    Praguejo seu nome pelas esquinas -
    são quintas de inverno em pleno verão.
    Terremotos que modificam o eixo
    da Terra, aumentando os turnos dos dias.

    discos e livros; espelhos partidos -
    tudo que sobra, já não mais ressoa
    dentro do tom dessa canção cansada
    perdida pelos cômodos vazios.

    que ainda resta de felicidade -
    arrebentação; seu sorriso largo,
    aonde posso ancorar o meu barco
    contra elevadas vagas de paixão.



    versão anterior:
    http://aescada.blogspot.com/2010/04/tsunami-musica.html

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  3. Ficou mais difícil. Saudades da redondilha maior.

    Carpas e diamantes

    Paciência antes de casar, Sarah,
    pois cabem muitos tapas nessa cara
    ingênua que se alimenta de angústia
    e causa tanto espanto quanto fúria.

    As tuas núpcias podem esperar
    a mais amena estação, quando chovem
    carpas e diamantes e não há jovem
    que não ouça o lamento do mar.

    Marcelo Duarte

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  4. Antônio, um dos decassílabos que te mandei não era bem decassílado, só depois notei. Já devidamente 'corrigido', vou deixar aqui os dois:

    ---

    pensando n'eu por aqui e pelaí:
    era eu livre ou pouco esclarecida?
    ah, aqui aprendi a contar e vi
    os metros me assombrarem a vida

    ---

    primeiro verso e dez sílabas métricas
    segundo verso e dez sílabas métricas
    terceiro verso e dez sílabas métricas
    quatro versos e dez sílabas mentem

    ---

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  5. SONETO EM AZUL

    Então, de azul a Terra repintei
    antes que Gagarin do espaço a visse.
    E no azul dos teus olhos mergulhei
    sem que um canto de sereia se ouvisse.

    A Blue Lady, triste, recebe as rosas
    da fase azul, da melancolia.
    Smurfs são criaturas curiosas:
    tão azuis e tão cheias de alegria!

    Azul da tão falada liberdade,
    da velha calça que já não me cabe.
    Melhor outra comprar, no Rio Sul.

    Azul das gardênias sobre a mesa,
    do sangue e das taras da baronesa
    recém-casada com o Barba Azul.

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  6. prof., lanço meu 'ardil', o sonetinho abaixo. ele é fruto de um poema antigo muito ruim que nem a forma de soneto tinha, eram três quadras de redondilhas mal contadas. ficou muito melhor agora em decassílabos, apesar de achar q ele precisa de uma mãozinha de tinta ainda.


    ARDIL
    como não bastasse a palavra árdua
    que nem co’ a carapuça d’ arapuca
    (arre que na tua língua ela arda!)
    da caipora te arranco mameluca

    vou transvestido em trapos de poeta
    só de riste cavalgo o laço em mão
    mas é tu com teus olés que me pregas
    prostrado roto e tosco, fuça ao chão!

    eis que assim eu vou sempre pela busca
    da bruta gruta abrupta que em mim gruda
    longonde lá que a langue língua lia

    inversos veros qu’ eu dava em permuta
    a saber donde o antes se escondia
    das férreas garras desta má poesia

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