quinta-feira, 7 de abril de 2011

Aula de 12 de abril

A seguir, vou postar alguns poemas que não chegamos a ler na aula passada. Até segunda, terei postado outros poemas que também discutiremos no dia 12. Peço que os alunos por favor postem os seus poemas no lugar reservado aos comentários a esta postagem; ou então, que os enviem para o e-mail acicero@live.com.


Carlos Drummond de Andrade: As rosas do tempo
Admirável espírito dos moços,
a vida te pertence. Os alvoroços,

as iras e entusiasmos que cultivas
são as rosas do tempo, inquietas, vivas.
 
Erra e procura e sofre e indaga e ama,
que nas cinzas do amor perdura a flama.


Mário Faustino: Carpe diem
Que faço deste dia, que me adora?
Pegá-lo pela cauda, antes da hora
Vermelha de furtar-se ao meu festim?
Ou colocá-lo em música, em palavra,
Ou gravá-lo na pedra, que o sol lavra?
Força é guardá-lo em mim, que um dia assim
Tremenda noite deixa se ela ao leito
Da noite precedente o leva, feito
Escravo dessa fêmea a quem fugira
Por mim, por minha voz e minha lira.

(Mas já de sombras vejo que se cobre
Tão surdo ao sonho de ficar — tão nobre.
Já nele a luz da lua — a morte — mora,
De traição foi feito: vai-se embora.)

Ovídio: de “Metamorfoses”, livro 15, verso 871ss
Iamque opus exegi, quod nec Iovis ira nec ignis
nec poterit ferrum nec edax abolere vetustas.
cum volet, illa dies, quae nil nisi corporis huius
ius habet, incerti spatium mihi finiat aevi:
parte tamen meliore mei super alta perennis
astra ferar, nomenque erit indelebile nostrum,
quaque patet domitis Romana potentia terris,
ore legar populi, perque omnia saecula fama,
siquid habent veri vatum praesagia, vivam.

Tradução de Antonio Cicero:
Terminei obra que nem a ira de Júpiter
nem o fogo ou o ferro ou a voraz velhice
abolirão. Que chegue a hora decisiva
para o meu corpo apenas e encerre o espaço
dos meus dias: e que a melhor parte de mim
eleve muito acima dos mais altos astros,
perene, e que nosso nome seja indelével,
e que onde quer que se abra a potência de Roma
sobre as terras dominadas eu seja lido
pelo povo, e que de fama através dos séculos,
segundo os presságios dos poetas, eu viva.


Horácio: Ode III.xxx
Exegi monumentum aere perennius
regalique situ pyramidum altius,
quod non imber edax, non aquilo impotens
possit diruere aut innumerabilis
annorum series et fuga temporum.
non omnis moriar multaque pars mei
vitabit Libitinam: usque ego postera
crescam laude recens, dum Capitolium
scandet cum tacita virgine pontifex:
dicar, qua violens obstrepit Aufidus
et qua pauper aquae Daunus agrestium
regnavit populorum, ex humili potens
princeps Aeolium carmen ad Italos
deduxisse modos. sume superbiam
quaesitam meritis et mihi Delphica
lauro cinge volens, Melpomene, comam.
Tradução de Antonio Cicero:
Erigi um monumento mais duradouro que o bronze,
mais alto do que a régia construção das pirâmides
que nem a voraz chuva, nem o impetuoso Áquilo
nem a inumerável série dos anos,
nem a fuga do tempo poderão destruir.
Nem tudo de mim morrerá, de mim grande parte
escapará a Libitina: jovem para sempre crescerei
no louvor dos vindouros, enquanto o pontífice
com a tácita virgem subir ao Capitólio.
Dir-se-á de mim, onde o violento Áufido brama,
onde Dauno pobre em água sobre rústicos povos reinou,
que de origem humilde me tornei poderoso,
o primeiro a trazer o canto eólio aos metros itálicos.
Assume o orgulho que o mérito conquistou
e benévola cinge meus cabelos,
 Melpómene, com o délfico louro.

  
Safo: Fragmento 168
Tradução de Antonio Cicero
Mergulhou a lua
e as Plêiades: meia-
noite, a hora passa
e eu durmo sozinha.


Fragmento 168
Tradução: Antonio Cicero
Parece-me igual aos deuses
aquele homem que em frente a ti
se senta e de perto tua doce voz
Escuta
           
e teu riso adorável que feriu
meu coração no peito;
pois cada vez que te olho um instante
já não consigo falar;

a língua entorpece e um sutil
fogo corre sob minha pele,
nada vejo com os olhos, zunem-me
os ouvidos;

um suor me umedece, um tremor
me domina, fico mais pálida
que a relva e tenho a impressão
de quase morrer.

Fragmento 1
Tradução de Antonio Cicero
Afrodite imortal de trono multicor,
filha de Zeus, tecelã de intrigas, suplico-te:
não dobres a sofrimentos e angústias,
senhora, meu coração;
mas aproxima-te, se jamais no passado
ouvindo meu grito de longe
atendeste, e deixando o palácio dourado
do teu pai, vieste,
tendo atrelado o carro: trouxeram-te belos
pardais velozes sobre a terra escura,
e, turbilhonando as asas no ar
celeste,logo chegaram; e tu, Bem-Aventurada,
com um sorriso no rosto imortal,
perguntaste por que sofro agora e por que
de novo te chamo,
e o que é que mais almeja
meu louco coração. "Quem, agora
convenço para o teu amor? Quem,
ó Safo, te faz mal?
Pois, se ela foge, logo perseguirá;
se recusa presentes, presentes oferecerá,
se não ama, logo amará,
mesmo sem querer."
Vem para mim também agora, livra-me
deste sofrimento atroz, realiza tudo o que meu
coração deseja realizar: sê de novo
minha aliada.

Haroldo de Campos: Horácio contra Horácio
ergui mais do que o bronze ou que a pirâmide
ao tempo resistente um monumento
mas gloria-se em vão quem sobre o tempo
elusivo pensou cantar vitória:
não só a estátua de metal corrói-se
também a letra os versos a memória
— quem nunca soube os cantos dos hititas
ou dos etruscos devassou o arcano?
o tempo não se move ou se comove
ao sabor dos humanos vanilóquios —
rosas e vinho — vamos! — celebremos
o instante           a ruína           a desmemória

Paulo Henriques Britto: Trompe l’oeil
Os fracassos todos de uma existência,
quando cuidadosamente empilhados,
observada uma certa coerência,
parecem uma espécie de pirâmide
monumental — ainda que truncada,

talvez — desde que olhados à distância
no momento preciso em que os atinge
o sol do entardecer, formando um ângulo
cujo valor exato se obtém
com base no... mas não, é mais esfinge

que pirâmide, sim, pensando bem —
quer dizer, uma esfinge estilizada,
sugerida apenas, como convém
a um monumento, ou cenotáfio, ao nada.

Bertold Brecht: Lob der Vergeßlichkeit
Gut ist die Vergeßlichkeit!
Wie sollte sonst
Der Sohn von der Mutter gehen, die ihn gesäugt hat?
Die ihm die Kraft seiner Lieder verlieh und
Die ihn zurückhält, sie zu erproben.

Oder wie sollte der Schüler den Lehrer verlassen
Der ihm Wissen verlieh?
Wenn das Wissen verliehen ist
Muß der Schüler sich auf den Weg machen.

In das alte Haus
Ziehen die neuen Bewohner ein.
Wenn die es gebaut haben noch da wären
Wäre das Haus zu klein.

Der Ofen heizt. Den Hafner
Kennt man nicht mehr. Der Pflüger
Erkennt den Laib Brot nicht.

Wie erhöbe sich ohne das Vergessen der
Spurenverwischenden Nacht der Mensch am           Morgen?
Wie sollte der sechsmal zu Boden geschlagene
Zum siebenten Mal aufstehen
Umzupflügen den steinigen Boden, anzufliegen
Den gefährlichen Himmel?

Die Schwäche des Gedächtnisses verleiht
Den Menschen Stärke.

Tradução de Paulo César de Souza: Elogio do esquecimento
Bom é o esquecimento!
Senão como se afastaria o filho
Da mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros
E o impede de experimentá-la.

Ou como deixaria o aluno
O professor que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O aluno tem que se pôr a caminho.

Para a velha casa
Mudam-se os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá vivessem
A casa seria pequena demais.

O forno esquenta. Já não se sabe
Quem foi o oleiro. O plantador
Não reconhece o pão.

Como se levantaria pela manhã o homem
Sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro?
Como se ergueria pela sétima vez
Aquele derrubado seis vezes
Para lavar o chão pedroso, voar
O céu perigoso?

A fraquesa da memória
Dá força ao homem.


Manuel Bandeira: O cacto
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais,        caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades   excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
privou a cidade de iluminação e energia:- Era belo, áspero, intratável.



Baudelaire : L’invitation au voyage
Mon enfant, ma soeur,
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble!
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble!
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.

Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
— Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.

Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Tradução de Ivan Junqueira
Minha doce irmã,
Pensa na manhã
Em que iremos, numa viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis orvalhados
Desses céus nublados
Para mim guardam o encanto
Misterioso e cruel
De teu olho infiel
Brilhando através do pranto.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.

Os móveis polidos,
Pelos tempos idos,
Decorariam o ambiente;
As mais raras flores
Misturando odores
A um âmbar fluido e envolvente,
Tetos inauditos,
Cristais infinitos,
Toda uma pompa oriental,
Tudo aí à alma
Falaria em calma
Seu doce idioma natal.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.

Vê sobre os canais
Dormir junto aos cais
Barcos de humor vagabundo;
É para atender
Teu menor prazer
Que eles vêm do fim do mundo.
- Os sangüíneos poentes
Banham as vertentes,
Os canis, toda a cidade,
E em seu ouro os tece;
O mundo adormece
Na tépida luz que o invade.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.


Bertold Brecht: An die Nachgeborenen
I Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!
Das arglose Wort ist töricht. Eine glatte Stirn
Deutet auf Unempfindlichkeit hin. Der Lachende
Hat die furchtbare Nachricht
Nur noch nicht empfangen.
Was sind das für Zeiten, wo
Ein Gespräch über Bäume fast ein Verbrechen ist.
Weil es ein Schweigen über so viele Untaten einschließt!
Der dort ruhig über die Straße geht
Ist wohl nicht mehr erreichbar für seine Freunde
Die in Not sind?

Es ist wahr: ich verdiene noch meinen Unterhalt
Aber glaubt mir: das ist nur ein Zufall. Nichts
Von dem, was ich tue, berechtigt mich dazu, mich sattzuessen.
Zufällig bin ich verschont. (Wenn mein Glück aussetzt, bin ich verloren.)

Man sagt mir: iß und trink du! Sei froh, daß du hast!
Aber wie kann ich essen und trinken, wenn
Ich dem Hungernden entreiße, was ich esse, und
Mein Glas Wasser einem Verdurstenden fehlt?
Und doch esse und trinke ich.

Ich wäre gerne auch weise.
In den alten Büchern steht, was weise ist:
Sich aus dem Streit der Welt halten und die kurze Zeit
Ohne Furcht verbringen
Auch ohne Gewalt auskommen
Böses mit Gutem vergelten
Seine Wünsche nicht erfüllen, sondern vergessen
Gilt für weise.
Alles das kann ich nicht:
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!

II
In die Städte kam ich zur Zeit der Unordnung
Als da Hunger herrschte.
Unter die Menschen kam ich zu der Zeit des Aufruhrs
Und ich empörte mich mit ihnen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Mein Essen aß ich zwischen den Schlachten
Schlafen legte ich mich unter die Mörder Der Liebe pflegte ich achtlos
Und die Natur sah ich ohne Geduld.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.
Die Straßen führten in den Sumpf zu meiner Zeit.
Die Sprache verriet mich dem Schlächter.
Ich vermochte nur wenig. Aber die Herrschenden
Saßen ohne mich sicherer, das hoffte ich.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Die Kräfte waren gering. Das Ziel
Lag in großer Ferne
Es war deutlich sichtbar, wenn auch für mich
Kaum zu erreichen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

III
Ihr, die ihr auftauchen werdet aus der Flut
In der wir untergegangen sind
Gedenkt
Wenn ihr von unseren Schwächen sprecht
Auch der finsteren Zeit
Der ihr entronnen seid.


Gingen wir doch, öfter als die Schuhe die Länder wechselnd
Durch die Kriege der Klassen, verzweifelt
Wenn da nur Unrecht war und keine Empörung.

Dabei wissen wir doch:
Auch der Haß gegen die Niedrigkeit
verzerrt die Züge.
Auch der Zorn über das Unrecht
Macht die Stimme heiser. Ach, wir
Die wir den Boden bereiten wollten für Freundlichkeit
Konnten selber nicht freundlich sein.

Ihr aber, wenn es so weit sein wird
Daß der Mensch dem Menschen ein Helfer ist
Gedenkt unserer
Mit Nachsicht.
 
Tradução de Paulo César de Souza:
I
É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.

Que tempos são esses, em que
Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?

Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar.
Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)

As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d’água falta ao que tem sede?
E no entanto eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

II
À cidade cheguei em tempo de desordem
Quando reinava a fome.
Entre os homens cheguei em tempo de tumulto
E me revoltei junto com eles.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.
A comida comi entre as batalhas
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.
A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima
Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.

As forças eram mínimas. A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim
Quase inatingível.
Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

III
Vocês, que emergirão do dilúvio
Em que afundamos
Pensem
Quando falarem de nossas fraquezas
Também nos tempos negros
De que escaparam.
Andávamos então, trocando de países como de sandálias
Através das lutas de classes, desesperados
Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.

Entretanto sabemos:
Também o ódio à baixeza
Deforma as feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca. Ah, e nós
Que queríamos preparar o chão para o amor
Não pudemos nós mesmos ser amigos.

Mas vocês, quando chegar o momento
Do homem ser parceiro do homem
Pensem em nós
Com simpatia.

Francisco Alvim: Argumento
Mas se todos fazem

Francisco Alvim: Sofrimento
Cara de tristeza na festa
Anda, vê um copo d’água pra teu pai


Francisco Alvim: Quer ver?
Escuta

Luiz Olavo Fontes: Meu amor de soslaio
Faz tanto calor no Rio de Janeiro
que é bom sentir essa neve
partir de seu olhar.

Chacal: Rápído e rasteiro
vai ter uma festa
                      que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
                      Aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida.

8 comentários:

  1. quarto

    revirada forma afama
    a colcha por sobre a cama -
    quando a luz do dia atesta
    a noite de amor em festa.

    --------------------------------

    mistério

    pr'outro lado me descubro;
    sair pra fora da vida-
    do livro, a página finda:
    morrer é puro descuido.

    --------------------------------

    essa moça na janela
    é toda vida que passa
    d'outro lado o espelho dela
    e um rapaz que só faz graça

    --------------------------------

    papai antes de partir
    um outro mundo previu
    pouca coisa entendi
    do que dos seus olhos saiu

    --------------------------------

    Também sou um novato em métrica, talvez haja algum erro na contagem de um ou outro verso .

    ResponderExcluir
  2. ELEMENTO SURPRESA

    Pela janela da frente,
    um homem demente olha.
    Da louca boca sem dentes
    um grande cuspe me molha.

    O tal monstro ria e ria
    me vendo tão revoltada.
    Uma pedra! Eu também rio
    ao ver sua cara quebrada.

    ________________________________

    ZÁS TRÁS

    Pela janela fugiu,
    o gatinho da vizinha.
    Ninguém sabe ninguém viu
    a meiga criaturinha.

    Seu Pacheco o gato viu.
    Faminto, não perdeu tempo.
    Ensopadinho o serviu
    temperado com coentro.

    __________________________________

    AMPLITUDE

    Não olhe pelas janelas.
    Nada existe além delas.
    Gosto de cantos escuros,
    de sombras, tampas e muros.

    De perguntas sem respostas,
    palpites, jogos, apostas.
    As coisas como semente.
    Não prontas. promessas sempre.

    ResponderExcluir
  3. DEPOIS DO ALMOÇO

    Feijoada temperada,
    linguiça frita crocante,
    gnocchi com carne assada
    e vinho tinto rascante.

    Peixe em panela de barro,
    banana caramelada...
    Pela janela do carro,
    enjoado, eu vomitava.

    tinha a cara lambuzada,
    o cabelo em desalinho.
    Que comida desgraçada!
    Pode ser o tal do vinho...

    Rápido, corram senhores,
    que eu estou passando mal!
    Depois de tantos sabores
    foi morrer num hospital.

    ResponderExcluir
  4. MULHER SURPREENDIDA EM ADULTÉRIO

    Prazer tão delicioso,
    e depravado,sentia...
    Volúpia, paixão e gozo.
    Resistir, quem poderia?

    Lindamente nua, tremia.
    O marido estava armado.
    E pela janela via
    seu amante ensanguentado.




    ASSASSINO CONFESSO

    Eu matei miha mulher.
    Matei, e com muito gosto.
    Só fazendo o que se quer
    depois de tanto desgosto.

    Muito safada e bela
    era ela. Morta quem amei!
    Seu corpo pela janela
    arrependido joguei.

    O que é que eu fui fazer?
    Sou louco! E, de dor, choro.
    Por não mais saber viver,
    pela janela me jogo.

    ResponderExcluir
  5. professor cícero, aí vai meio atrasado o exercício das quadras. este poema chama 'limpo limbo' - nome ruim, mas qualquer hora vem coisa melhor. na segunda quadra sugeri rimas internas emparelhando dísticos, por favor, diga-me se acha forçado; tentei mesmo pra isso localizá-las nos acentos, para que sobressaíssem. além desta possível imperfeição há uma falta de completude de pensamento,mas ainda não o consigo acertar, se for esperar por isso não entrego o exercício a tempo. bom, vai o poema:


    quanto em quadro branco tem
    tudo e todo canto aqui
    visto vago e limpo além
    da tela em queda? perdi

    o muro qu’ é manto imundo
    mura o mundo pela crista
    e a mesma lupa que dista
    a mente! o é em plena culpa

    astrolábios salivantes
    se alimentam da distância
    pois não são senão o antes
    que tanto enche essa pança

    sabem bem beijar o zênite
    afundado na nadir
    que nada do branco prenhe
    que só falta se esvair

    pois vai amarelo sujo!
    enreda nos raios todas
    tantas cores que esconjuro
    : a matéria em quadra rôta

    fica ao muro o quadro limpo
    branco feito onde sumo
    sem tela que tampe o cúmulo
    de tudo em bendito limbo

    ResponderExcluir
  6. SONETO EM LARANJA

    Laranja é cor que chega-chegando,
    marca presença e fala gritando.
    Vende incensos cantando Hare Hare.
    Exubera. Por favor, não repare.

    Encontrar o alaranjado pomar.
    Depois colher, espremer, descascar.
    Mas laranja também tem seu defeito:
    No Vietnan busquei o seu efeito.

    Entre as frutas, escolho a mais madura
    e mergulho em seus sumos. Que doçura!
    Com vitaminas, que só fruta esbanja.

    A cor me seduziu, não resisti:
    estou enamorada de um gari.
    Que susto! Que delícia ! Que laranja!

    ResponderExcluir