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queridos,
sem precisar redizer que nossa mesa aquele dia na uerj foi ótima, uma coisa ficou me encasquetando. a resposta que dei sobre o poeta, o "sujeito" que escreve, ser retirado de si diante da presença do poema, é verdadeiro. falei dos arranjos, certo grau quase zero da presença do poeta, falei dos poemas do surfe, poderia ter falado dos poemas do boxe e muitos outros.
mas, ao mesmo tempo, se o papo com as leituras se estendessem mais um pouco, o poema seguinte que eu leria seria o "de pistolas, crucifixos e jasmins". ali, houve uma experiência efetiva de onde nasceu o poema, que é uma tentativa de colocar o acontecimento em palavras. eu ia brincar e dizer para o público que eu não poderia falar do contexto de nascimento daquele poema, mas, brincando com o cicero, eu ia dizer que eu iria falar o epos do poema, mas para todos ali imaginarem o mito. no caso, o epos era muito próximo do mito. rs. com outra temporalidade, claro, com outras possibilidades. dizer que tal poema surge de uma experiência erótica, querendo presentificar a experiência no poema, não é dizer que o poema estava de antemão pronto na hora da cena. claro que não. mas é dela que ele parte. é ela que ele tenta compor. a complexidade é que uma vez composta a cena em poema, a cena se retira, para a presença das palavras. a necessidade primeira é que a cena instigadora possa de fato sair para que a nova cena, a poética, se sustente por ela mesma. talvez seja nessa retirada da cena, nessa ausência necessária para a presença do poema, que o leitor entra. ou seja, talvez não seja pura verdade dizer que o sujeito é completamente forjado pelo poema, mas, se há verdade nisso, e há, também há muita verdade ao dizer que o poeta é aquele que se retira para que o leitor entre no vazio deixado por ele.
os poemas seguintes que eu leria também seriam poemas amorosos. todos esses partem de fato de minha experiência nos últimos anos. na relação poema-sujeito, a complexidade também aparece. muitas vezes, tais poemas são maneiras, para mim necessárias, de eu mesmo entender o que está acontecendo comigo, de produzir uma possibilidade em palavras para o que está acontecendo. como se a complexidade amorosa, os afetos muitas vezes suscitados por ela, expulsassem diariamente as palavras, que fogem em nome da força do sentimento, do afeto, do corpo, da alegria, da dor. como fazer surgir uma palavra desse corpo indizível? que palavra é essa que só pode dar conta do corpo com seus afetos pela criação e que carrega consigo o corpo, corpo que se transforma em poema, mas que, também uma vez pronto o poema, tanto permanece no poema quanto se retira. sobretudo, poemas esses que, surgidos de acontecimentos amorosos, querem ser, mais do que realistas, eu diria hiperealistas. a questão é que só se chega ao hiperealismo com trabalho, com produção. mas o rastro do corpo está lá.
é muito difícil pensar as filigranas do que ocorre entre o poeta e o poema. assim, queria só dizer que a resposta não foi falsa, mas foi incompleta, como, sempre, seria. talvez o que eu esteja querendo dizer é que o poema vive, muitas vezes, da tensão entre nossas subjetivações e nossas dessubjetivações e nossas ressubjetivações e dessubjetivações. nessas articulações e desarticulações, nessa artrologia, nós, sujeitos poéticos, também nos posicionamos, perdendo-nos, achando-nos, perdendo-nos de novo. não cronologicamente. mas nesse entre procura e perdição, mas fica um rastro ali. um rastro de um corpo perdido, de um corpo que teima em escapar. talvez por isso, num desses poemas que não li, mas estavam selecionados para ler, está dito que talvez por isso o poema [também] é o rastro de uma fuga minimamente bem sucedida.
beijos e abraços,
beto,
pucheu
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