sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Aula de 26 de setembro

<br>

Na última aula do mês teremos, como de hábito, a visita de um poeta que nos falará sobre o seu trabalho. Desta vez, o poeta convidado é André Vallias que, recentemente, lançou o livro Heine hein? Poeta dos contrários (São Paulo: Perspectiva / Goethe Institut, 2011), em que faz um admirável trabalho de tradução e apresentação do poeta Heinrich Heine. Concordo com Augusto de Campos que, na orelha do livro, declarou: "Considero este livro "um dos mais significativos projetos literários brasileiros dos últimos anos de que tenho conhecimento".

André Vallias é poeta, designer gráfico e produtor de mídia interativa. De 1987 a 1994 viveu na Alemanha, onde foi co-curador de importantes exposições de poesia experimental, entre as quais Transfutur – poesia visual da União Soviética, Brasil e países de língua alemã (1990) e p0es1e – digitale dichtkunst (1992), primeira mostra internacional de poesia feita em computador. De volta ao Brasil, tornou-se um dos mais destacados designers da web brasileira, notabilizando-se pela criação dos sites de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Edgar Morin, entre outros. Em 2003, foi agraciado com o Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia pelo poema interativo ORATORIO. Vem publicando regularmente poemas e traduções em diversas revistas brasileiras e internacionais, como Piauí, S/N, Artéria, Et Cetera, Cacto, Roda, Cortex, Alire, Visible Language, High Quality. Contribuiu nos livros: Media Poetry: an International Anthology – Eduardo Kac (org.), Céu Acima: Para um tombeau de Haroldo de Campos – Leda Tenório da Motta (org.), Cultura Digital.Br – Rodrigo Savazoni e Sergio Cohn (org.), entre outros. Em 2007, foi co-curador da exposição POIESIS – poema entre pixel e programa (Oi Futuro, RJ) e realizou apresentações multimídia de seus poemas e traduções nos eventos Errática – Poema ao vivo (CCBB, RJ) e Poema Falado (Itáu Cultural, SP). Em 2010, apresentou-se ao lado da multi-instrumentista e performer Lica Cecato, no espetáculo Sybabelia (Oi Futuro, RJ / SESC – Pompeia, SP). É editor da revista online Errática: http://www.erratica.com.br/. Recomendo aos alunos visitarem essa revista, antes da aula.


Dois poemas de Heine traduzidos por André Vallias:




Larga as parábolas sagradas

Larga as parábolas sagradas,
Deixa as hipóteses devotas,
E põe-te em busca das respostas
Para as questões mais complicadas.

Por que se arrasta miserável
O justo carregando a cruz,
Enquanto, impune, em seu cavalo,
Desfila o ímpio de arcabuz?

De quem é a culpa? Jeová
Talvez não seja assim tão forte?
Ou será Ele o responsável
Por todo o nosso azar e sorte?

E perguntamos o porquê,
Até que súbito – afinal –
Nos calam com a pá de cal –
Isto é resposta que se dê?


Laß die heil'gen Parabolen

Laß die heil'gen Parabolen,
Laß die frommen Hypothesen -
Suche die verdammten Fragen
Ohne Umschweif uns zu lösen.

Warum schleppt sich blutend, elend,
Unter Kreuzlast der Gerechte,
Während glücklich als ein Sieger
Trabt auf hohem Roß der Schlechte?

Woran liegt die Schuld? Ist etwa
Unser Herr nicht ganz allmächtig?
Oder treibt er selbst den Unfug?
Ach, das wäre niederträchtig.

Also fragen wir beständig,
Bis man uns mit einer Handvoll
Erde endlich stopft die Mäuler -
Aber ist das eine Antwort?


Por séculos afora

Por séculos afora,
Inertes no infinito,
Estrelas se entreolham
No amor irresolvido.

A língua em que murmuram
É rica e muito bela;
Filólogo nenhum
Jamais há de entendê-la.

Porém tenho-a aprendido
Em teoria e prática:
A face em que eu orbito
Serviu-me de gramática.


Es stehen unbeweglich
 
Es stehen unbeweglich
Die Sterne in der Höh’,
Viel tausend Jahr’, und schauen
Sich an mit Liebesweh.

Sie sprechen eine Sprache,
Die ist so reich, so schön;
Doch keiner der Philologen
Kann diese Sprache verstehn.

Ich aber hab’ sie gelernet,
Und ich vergesse sie nicht;
Mir diente als Grammatik
Der Herzallerliebsten Gesicht.


Os poemas de Heinrich Heine traduzidos por André Vallias se encontram no seguinte livro:

HEINE, Heinrich. Heine hein? Poeta dos contrários. Introdução e tradução de André Vallias. São Paulo: Perspectiva, 2011.



Depoimento de André Vallias:

Quando iniciei o trabalho de tradução dos poemas de Heine, há exatos três anos, conhecia muito pouco sobre o poeta e sua produção intelectual, mas sabia do grande apreço que Décio Pignatari tinha por sua obra. Esta a razão, aliada à minha admiração pelo irrequieto integrante dos “tri-gênios concretistas”, de ter dedicado a ele HEINE, HEIN? – Poeta dos contrários.
Fui traduzindo aos poucos, sem qualquer pretensão de realizar uma antologia de fôlego; no máximo algo em torno do que já havia feito com a poesia de Hölderlin e Trakl – cerca de 20 poemas, intercalados com cartas –, que publiquei em versões reduzidas na revista literária Cacto. Foi, aliás, uma dessas pequenas coletâneas – a de Georg Trakl – que levou Augusto de Campos a me propor publicação na prestigiosa coleção Signos da editora Perspectiva, por ele dirigida. Quando me dei conta, porém, do enorme déficit de traduções para o português da poesia de Heine, e do desconhecimento geral de sua obra no Brasil, resolvi deixar o poeta austríaco esperando. Augusto acolheu a mudança com muito simpatia, lembrando-se da alta estima que Pound e Pignatari tinham pelo poeta judeu-alemão. O editor Jacó Guinsburg – que, por sinal, traduziu a novela O Rabi de Bacherach de Heine nos anos de 1950, depois incluída na antologia de contos e novelas de autores judeus Entre Dois Mundos (Perspectiva, 1967) – e sua companheira Gita Guinsburg não foram menos receptivos.
Mas o embrião deste livro, por incrível que pareça, foi um disco imaginário que intitulei Caderno dos Sambas, numa referência ao best-seller de Heine, o Livro das Canções. Explico-me: os primeiros poemas que verti para o português, da safra mais coloquial-irônica do poeta, me soaram tão parecidos com as letras do nosso cancioneiro popular – especialmente daqueles sambas das décadas de 1930 e 1940 –, que não pude resistir à tentação de imaginá-los com a melodia de nossos maiores compositores, na voz de nossos grandes intérpretes. Assim, “O mundo é tolo, o mundo é cego...” virou o samba “Disparate”, de Geraldo Pereira e Wilson Batista, na interpretação do próprio Geraldo; “Os teus beijinhos foram tantos...”, virou “Enfermaria” de Noel Rosa, cantado por Mário Reis; “As garrafas pelo chão...”, um samba de breque de Moreira da Silva; “Celimena” – testemunho do tempestuoso casamento do poeta – não pude confiar a ninguém menos que Lupicínio Rodrigues; e por aí fui, até completar 12 fonogramas fictícios. Depois, animado com a desenvoltura que havia adquirido na tradução dos versos de Heine e, ainda mais, com a repercussão entusiasmada dos primeiros e ilustres leitores dessa empreitada – os poetas Augusto de Campos e Age de Carvalho – resolvi encarar o desafio de proporcionar uma grande amostragem de sua obra tão original. Confesso, todavia, que não desisti ainda da ideia de ouvir o poeta de Düsseldorf na cadência do samba...

Artigo de Marcelo Coelho, na Ilustrada da Folha de São Paulo de 27/07/2011:
Heine
Para algum prêmio literário (não sei qual) já tenho forte candidato este ano.
É a grande (540 páginas) antologia dos textos do poeta alemão Heinrich Heine (1797-1856), traduzidos por André Vallias para a editora Perspectiva.
Fale-se em "cultura alemã" -e nossa reação é sacar do bolso a cuíca e o tamborim. Não há quem não tenha medo da profundidade elefantina das declamações wagnerianas, para nada dizer das sinfonias de Bruckner (mas o coitado era austríaco) e da filosofia de Kant.
Amigo de Chopin, de Alexandre Dumas e de Balzac, Heine -que era judeu e exilou-se em Paris- não podia estar mais longe desse estereótipo germânico.
Seu estilo é leve, fantasioso, irônico e romântico ao mesmo tempo -e Heine entendia de Carnavais. Manuel Bandeira certamente se lembrou de um soneto de 1821 ("Me passa a máscara: vou desfilar/ De plebe... Me passa, eu vou vestir-me de gentalha") em um dos poemas de seu "Carnaval", quase cem anos depois: "Quero beber! Cantar asneiras...".
Mas a influência de Heine sobre a literatura brasileira não fica só no autor de "Libertinagem". Já escrevi sobre o "Navio Negreiro" do autor alemão, que inspirou Castro Alves e saiu em nova tradução em português em 2009 (editora SM).
André Vallias, nas excelentes análises que acompanham sua tradução, especula se o célebre "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade ("João amava Teresa que amava Raimundo") não teria seu antecessor direto num poema de Heine, musicado por Robert Schumann: "O rapaz ama uma jovem/Que deseja outro rapaz/Este de outra se enamora,/ Lá se vão ao juiz de paz"...
Muitos versos de Heine viraram canções, ou "lieder", como se diz em alemão. O sucesso que obtiveram na época (talvez o último caso de alta poesia virando best-seller na cultura europeia, segundo Walter Benjamin) provavelmente se deve ao fato de que Heine, como os compositores da MPB, sabia registrar, ao modo de um diário, os vaivéns, as nuances, as inúmeras situações do amor.
Traição, dúvida, promessa, raiva reprimida, descoberta mútua, ruptura, retorno: cabem todos os tons e todas as cores nas suas miniaturas.
O principal, e o que torna a poesia de Heine mais "moderna" do que romântica, e bem "brasileira" até, está na atitude de tomar certa distância, de desarmar os próprios sentimentos.
Num poema escrito aos 24 anos, Heine começa falando arrebatadamente da Lua, com um "séquito de estrelas", e do Sol da primavera. Poucos versos depois, ele conclui: "Estrelas, lua, sol e flor,/ Dois olhos lindos e canções de amor,/Por mais que nos comovam lá no fundo,/ Não mudam uma vírgula no mundo".
Essa sem-cerimônia com as próprias paixões justifica, mas não totalmente, algumas opções do tradutor, que às vezes exagera nos brasileirismos.
É o caso de "Não Vou Chiar", modo excessivamente pedestre que André Vallias encontrou para traduzir "Ich Grolle Nicht". O poema, também musicado por Schumann, é uma violenta descompostura na amante fiel, sob uma camada de fingida indiferença.
O texto, e a música de Schumann, foram traduzidos (sim, a música também pode ser "traduzida" para a linguagem da MPB) com muito mais eficácia e beleza por Arthur Nestrovski, num CD com o cantor Celso Sim. Virou, brasileiramente, "Pra que Chorar".
Mas a prosa de Heine aparece também em grande quantidade, e em traduções agilíssimas, na coletânea "Heine- Hein?" (o título é outra gratuidade criticável) de André Vallias.
Eis um trecho de uma crítica musical de Heine, a respeito do autor de "Giselle", Adolphe Adam (1803-1856). "O sr. Adam, pelo que sei, esteve na Noruega, mas duvido que lá algum feiticeiro (...) lhe tenha ensinado aquela melodia (...) que pode provocar um grande malefício: caso tocada, a natureza inteira entra em comoção, os rochedos e as montanhas começam a dançar, e as casas dançam, e, dentro, as cadeiras dançam; o avô puxa a avó para dançar; o cachorro, a gata; e até o bebê pula do berço e dança."
Essa "unificação geral" das coisas (Lua, flor, estrela, primavera, amor) se alterna, na literatura de Heine, com o princípio da separação, da ironia, da distância.
"Corto minha alma ao meio", diz ele à mulher desalmada. "Assopro-te a metade,/ Te abraço, então seremos/ Corpo e alma de verdade." Dancemos. Graças a esta tradução, a alma de Heine vive de novo.

Texto da orelha de Augusto de Campos para Heine hein? Poeta dos contrários:
Considero este livro um dos mais significativos proje­tos literários brasileiros dos últimos anos de que tenho conhecimento.
Desnecessário acentuar a importância de Heinrich Heine para a literatura, reconhecido, como é, universal­mente — ao lado de Goethe e de Rilke — como um dos maiores poetas de língua alemã de todos os tempos. Não é só o cânone estabelecido que o confirma. Basta dizer que um dos poetas seminais da Modernidade, o norte-americano Ezra Pound, situa-o como urna das "luzes" na sua revisão do passado literário, realçando-lhe a atualidade e chegando a afirmar, em seu característico estilo provocativo, que "depois de Villon pode-se pular tudo até Heine". Pois bem. A obra de Heine — em particular a poética — é escassamente conhecida e difundida entre nós. Das traduções modernas de sua poesia só é possível destacar, em termos de qualidade estética — as que constam da antologia de poemas traduzidos por Décio Pignatari, 31 Poetas 214 poemas: do Rigveda a Apollinaire (Editora da Unicamp) — apenas dez textos breves. "Byroniano, Heine teria superado Byron pela finura e precisão de sua arte poética.", é a opinião de Pignatari.
Assim, HEINE, HEIN? — O título é uma saborosa trouvaille a enfatizar a sensação de novidade que nos traz o livro — ganha dimensões incomuns.Não só pela quantidade do material textual que o tradutor nos oferece — ao todo, 120 poemas de todas as fases de Heine — como ainda pela insti­gante collage de sua epistolografia e de outros textos seus, que estabelecem um contraponto informativo com a anto­logia poética proposta.
As traduções de André Valhas têm, além disso, alta qualidade estética. Situam-se no âmbito da difícil arte da tradução poética ou da "transcriação" — expressão cunhada por Haroldo de Campos —, cujo objetivo é constituir, na língua de chegada, poemas que reproduzam o impacto e a criatividade originais. Tal empreitada, além do conheci­mento das duas línguas, requer muita expertise na elabora­ção poética, que — dadas as características do original — tem de lidar com requintados módulos métricos e rímicos, sem perder a espontaneidade da linguagem de Heine, onde se mesclam o sermo nobilis e o coloquial-irônico. O tradutor, afeito ao idioma germânico — tendo vivido na Alemanha de 1987 a 1994 - sai-se, a meu ver, com muito brilho dessa aventura literária.
Não é de hoje que ele vem mostrando sua competência tradutória em versões para o português de textos de Georg Trakl e de outros difíceis autores, como Vielimir Khléb­nikov, Óssip Mandelstam e Jules Laforgue. Não faz muito, confirmou o seu virtuosismo traduzindo a última obra de Paul Verlaine — os extravagantes Biblio-Sonetos, publicados no ano passado pelo selo literário Demônio Negro.

Ademais, o autor deu-se ao cuidado de adicionar aos textos um alentado estudo introdutório sobre a obra de Heine, completando-o com um posfácio voltado para a biografia do poeta alemão, que tem um perfil revolucioná­rio e precursor, sob vários aspectos, do ideário moderno. A tudo isso acrescentou, ainda, notas, bibliografia brasileira de Heine e índice analítico-remissivo, visando a facilitar aos nossos leitores o acesso à obra e a informação necessária para a sua contextualização histórica e literária.

Poema de Verlaine traduzido por André Vallias:

Bibliofilia

O livro velho, tantas vezes lido!
Com furos e fissuras ficou feio
Por uso, mas de súbito está cheio
De vida, ao tato e à vista oferecido.

O livro, que até pouco era defunto,
Ressurge "sem surpresa para o sábio"
Que sabe, ó Transformista de alfarrábio,
O quanto de arte pões no teu assunto.

Jovem de novo, afoito para o afã:
O livro – feito antiga cortesã
Que alguma fada-mãe deixasse virgem;

E, como se escutássemos a voz
Dourada de uma excelsa musa, nós
Relemos, entretidos na vertigem.
Bibliophilie

Le vieux livre qu’on a lu, relu tant de fois !
Brisé, navré, navrant, fait hideux par l'usage,
Soudain le voici frais, pimpant, jeune visage
Et fin toucher, délice et des yeux et des doigts.

Ce livre cru bien mort, chose d'ombre et d'effrois,
Sa résurrection « ne surprend pas le sage ».
Qui sait, ô Relieur, artiste ensemble et mage,
Combien tu fais encore mieux que tu ne dois.

On le reprend, ce livre en sa toute jeunesse,
Comme l’on reprendrait une ancienne maîtresse
Que quelque fée aurait revirginée au point;

On le relit comme on écouterait la Muse
D'antan, voix d'or qu'éraillait l'âge qui nous point :
Claire à nouveau, la revoici qui nous amuse.



VERLAINE, Paul. Biblio-Sonetos. Tradução de André Vallias. São Paulo: Selo Demônio Negro, 2010.

domingo, 18 de setembro de 2011

Aula de 19 de setembro

<br>

Na aula de 19 de setembro, farei uma  exposição e explicação da tese que apresentei na conferência "Poesia e Crítica", apresentada na ABL como parte do ciclo de conferências "Perspectivas da Crítica Literária".


TEXTOS:


Ezra Pound: And thus in Nineveh

"Aye! I am a poet and upon my tomb
Shall maidens scatter rose leaves
And men myrtles, ere the night
Slays day with her dark sword.

"Lo! this thing is not mine
Nor thine to hinder,
For the custom is full old,
And here in Nineveh have I beheld
Many a singer pass and take his place
In those dim halls where no man troubleth
His sleep or song.
And many a one hath sung his songs
More craftily, more subtle-souled than I;
And many a one now doth surpass
My wave-worn beauty with his wind of flowers,
Yet am I poet, and upon my tomb
Shall all men scatter rose leaves
Ere the night slay light
With her blue sword.

"It is not, Raana, that my song rings highest
Or more sweet in tone than any, but that I
Am here a Poet, that doth drink of life
As lesser men drink wine."

Trad. de Augusto de Campos: E assim em Nínive

“Sim, sou um poeta e sobre a minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.
“Vê! Não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou um poeta e sobre a minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

“Não é, Raana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho.”

Rafael Alberti: Se equivocó la paloma
Se equivocó la paloma
Se equivocó la paloma.
Se equivocaba.
Por ir al norte, fue al sur.
Creyó que el trigo era agua.
Se equivocaba.
Creyó que el mar era el cielo;
que la noche, la mañana.
Se equivocaba.
Que las estrellas, rocío;
que la calor, la nevada.
Se equivocaba.
Que tu falda era tu blusa;
que tu corazón, su casa.
Se equivocaba.  
(Ella se durmió en la orilla.
Tú, en la cumbre de una rama.)

Robert Frost: Nothing gold can stay

Nature's first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf's a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.

Robert Frost: Fire and Ice

Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I've tasted of desire
I hold with those who favor fire.
But if it had to perish twice,
I think I know enough of hate
To say that for destruction ice
Is also great
And would suffice.


Eugénio de Andrade: Mar de setembro

Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves -- só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado.

João Cabral de Melo Neto: Catar feijão
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.



Armando Freitas Filho: “Caçar em vão”
Às vezes escreve-se a cavalo.
Arremetendo, com toda a carga.
Saltando obstáculos ou não.
Atropelando tudo, passando
por cima sem puxar o freio –
a galope – no susto, disparado
sobre pedras, fora da margem
feito só de patas, sem cabeça
nem tempo de ler no pensamento
o que corre ou o que empaca:
sem ter a calma e o cálculo
de quem colhe e cata feijão.


Eucanaã Ferraz: Presto
Os dias despencam
aos pedaços. Logo será janeiro.
Posso farejar o amarelo das amendoeiras
de então (amarelas como teu cabelo)
e a praia, os bares, a ferrugem, nossas costas
e braços liquefeitos. Tanto faz a solidão,
a companhia: tudo são doenças tropicais,
incuráveis. O verão virá, forasteiro,
no vôo tonto, nupcial dos cupins
em volta das lâmpadas. Janeiro
está próximo, pressinto seu peso, a alegria,
o tremor, a sezão, o óleo,
a girândola veloz dos relógios
 a nos golpear no ventre. Girassóis
em bando assestarão suas lâminas
em direção aos táxis
enquanto os rios, erráticos, desaguarão
à porta dos edifícios da Senador Vergueiro.

Hölderlin: Buonaparte
Heilige Gefäße sind die Dichter,
Worin des Lebens Wein, der Geist
Der Helden, sich aufbewahrt,
Aber der Geist dieses Jünglings,
Der schnelle, müßt er es nicht zersprengen,
Wo es ihn fassen wollte, das Gefäß?
Der Dichter laß ihn unberührt wie den Geist der       [Natur,
An solchem Stoffe wird zum Knaben der Meister.
Er kann im Gedichte nicht leben und bleiben,
Er lebt und bleibt in der Welt.

Trad. de Antonio Cicero: Buonaparte

Vasos sagrados são os poetas
Em que o vinho da vida, o espírito
Dos heróis se preserva,

 Mas o espírito desse jovem,
O rápido, não explodiria
O vaso que tentasse contê-lo?

Que o poeta o largue intacto como o espírito da [natureza,
Em tal matéria torna-se aprendiz o mestre.

No poema ele não pode viver e ficar:
Ele vive e fica no mundo.


César Vallejo: Heces
Esta tarde llueve, como nunca; y no
tengo ganas de vivir, corazón.
Esta tarde es dulce. Por qué no ha de ser?
Viste gracia y pena; viste de mujer.
Esta tarde en Lima llueve. Y yo recuerdo
las cavernas crueles de mi ingratitud;
mi bloque de hielo sobre su amapola,
más fuerte que su "No seas así!"
Mis violentas flores negras; y la bárbara
y enorme pedrada; y el trecho glacial.
Y pondrá el silencio de su dignidad
con óleos quemantes el punto final.
Por eso esta tarde, como nunca, voy
con este búho, con este corazón.
Y otras pasan; y viéndome tan triste,
toman un poquito de ti
en la abrupta arruga de mi hondo dolor.
Esta tarde llueve, llueve mucho. ¡Y no
tengo ganas de vivir, corazón!



Trad. de Antonio Cicero: Borra

Esta tarde chove como nunca; e não
tenho ganas de viver, coração.
Esta tarde é doce. Por que não há de ser?
Veste graça e pena; veste de mulher.
Esta tarde em Lima chove. E não lembro
as cavernas cruéis de minha ingratidão:
meu bloco de gelo sobre sua amapola,
mais forte que seu "Não sejas assim!"
Minhas violentas flores negras; e a bárbara
e enorme pedrada; e o trecho glacial.
E porá o silêncio de sua dignidade
com óleos ardentes o ponto final.
Por isso esta tarde, como nunca, vou
com este mocho, com este coração.
E outras passam; e vendo‑me tão triste,
tomam um pouquinho de ti
na abrupta ruga de minha profunda dor.
Esta tarde chove, chove muito. E não
tenho ganas de viver, coração!

Hölderlin: Sokrates und Alcibiades
“Warum huldigest du, heiliger Sokrates,
„Diesem Jünglige stets? kennest du Größeres [nicht?
„Warum siehet mit Liebe,
„Wie auf Götter, dein Aug’ auf ihn?“
Wer das Tiefeste gedacht, liebt das Lebendigste,
Höhe Jugend versteht, wer in die Welt geblickt
Und es neigen die Weisen
Oft am Ende zu Schönem sich.


Sócrates e Alcibíades
“Por que honras, sagrado Sócrates,
“Sempre esse jovem? Não conheces nada maior?
“Por que o fitam com amor,
“como aos deuses, os teus olhos?”
Aquele que pensou o mais fundo ama o mais [vivaz,
Aquele que encarou o mundo entende a juventude [altiva
E ao fim frequentemente os sábios
curvam-se aos belos.






No primeiro semestre, distribui uma folha com a bibliografia básica do curso. Reproduzo-a abaixo:



BIBLIOGRAFIA


Sobre poética e crítica:

ARISTÓTELES. Poética. Trad. E. de Sousa. Porto Alegre: Globo, 1966.
ASCHER, Nelson. Poesia alheia. Rio de Janeiro: Imago, 1998.
AUDEN, W. H. Fazer, saber e julgar. Trad. de Ângela Melim. Ilha de Santa Catarina: Noa Noa, 1981.
BANDEIRA, M. Seleta de prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
BERARDINELLI, Alfonso. Da poesia à prosa. Trad. de M.S. Dias. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Trad. A. Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
BOILEAU, Nicolas. Arte poética. Ed. bilingue. Trad. Conce de Ericeira. Prefácio e notas de J.P. Machado. Lisboa: Fernandes, 1950.
CABRAL de Melo Neto, João. "Poesia e composição". In: _____. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p.721-37.
CALVINO, I. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
CICERO, Antonio. Finalidades sem fim. Ensaios sobre poesia e arte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
ELIOT, T.S. “A tradição e o talento individual”. In: Ensaios de doutrina crítica. Lisboa: Guimarães, 1962.
HORÁCIO. Arte poética. Lisboa: Inquérito, 1984.
PESSOA, Fernando. "Nota preliminar às Odes de Ricardo Reis". Apontamento solto de Álvaro de Campos. In: _____. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1969. p.251-96.
PESSOA, Fernando. "Nota preliminar às Poesias de Álvaro de Campos". Apontamento solto de Ricardo Reis. In: _____. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1969. p.297-423.
PIGNATARI, Décio. O que é a comunicação poética. São Paulo: Brasiliense, 1991.
POUND, Ezra. ABC da literatura. Trad. de A. de Campos e J.P. Paes. São Paulo: Cultrix, 2001.
SCHILLER, Friedrich von. A educação estética do homem. Trad. de M. Suzuki e R. Schwartz. São Paulo: Iluminuras, 1995.
SCHLEGEL, Friedrich. Conversa sobre poesia e outros fragmentos. Trad. V.P. Stirnimann. São Paulo: Iluminuras, 1994.
SHELLEY, P.B. Defesa da poesia. Lisboa: Guimarães Editores, 1986.
VALÉRY, Paul. Variedades. Trad. de M.M. de Siqueira. São Paulo: Iluminuras, 1991.

Sobre versificação:

BANDEIRA, Manuel. “A versificação em língua portuguesa”. In:
GUIMARÃES, Júlio (org.). _____. Seleta de prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
MATTOSO, Glauco. “Apêndice”. In: Geléia de rococó. São Paulo: Ciência do Acidente, 1999).
ALI, Said. Versificação portuguesa. São Paulo: Edusp, 1999.

Sobre letra de canção:

CICERO, Antonio. "Letra de música". Cultura Brasileira Contemporânea, vol.1, n.1, p.7-15, Rio de Janeiro, Novembro, 2006.
CAMPOS, Augusto de. "Boa palavra sobre a música popular". In: Balanço da bossa e outras bossas. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1978. p.59-65.
TATIT, Luis. O cancionista. Composição de canções no Brasil. São Paulo: Edusp, 1996.

Sobre tradução de poesia:


CAMPOS, Haroldo de. "Da tradução como criação e como crítica". In: Metalinguagem. Petrópolis: Vozes, 1967.
CICERO, Antonio. "Poesia e filosofia". In:_____Finalidades sem fim. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Aula de 12 de setembro

Caros alunos,

Na aula de hoje farei uma exposição e explicação da tese que apresentei na conferência "Poesia e Preguiça", apresentada na ABL como parte do ciclo de conferências "Mutações: Elogio à Preguiça".

Como combinado, deixem, por favor, no espaço destinado a comentários a esta postagem, os exercícios que tiverem feito.


TEXTOS:


Charles Baudelaire: de "Mon coeur mis à nu":

Foi pelo lazer que, em parte, cresci. Com grande prejuízo, pois o lazer, sem fortuna, aumenta as dívidas, as humilhações resultantes das dívidas. Mas com grande lucro, relativamente à sensibilidade, à meditação, e à faculdade do dandismo e do diletantismo”.


Paul Valéry: de "Le bilan de l'intelligence"

Perdemos aquela paz essencial das profundezas do nosso ser, aquela ausência sem preço durante a qual os elementos mais delicados da vida se renovam e se reconfortam, durante a qual o ser, de algum modo, se lava do passado e do futuro, da consciência presente, das obrigações pendentes e das expectativas à espreita... Nenhuma preocupação, nenhum amanhã, nenhuma pressão interior; mas uma espécie de repouso na ausência, uma vacuidade benéfica que devolve ao espírito sua liberdade própria. Ele então se ocupa somente consigo mesmo. Livre de suas obrigações para com o conhecimento prático e desonerado da preocupação com as coisas próximas, ele pode produzir formações puras como cristais.


Hokusai: Do "Prefácio" a One hundred views of Mount Fuji

Desde seis anos, tenho mania de desenhar as formas das coisas. Aos cinquenta anos, eu tinha publicado uma infinidade de desenhos, mas nada do que fiz antes dos setenta anos vale a pena. Foi aos setenta e três que compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza dos animais, das árvores, das plantas, dos pássaros, dos peixes e dos insetos.

Consequentemente, quando eu tiver oitenta anos, terei progredido ainda mais; aos noventa, penetrarei no mistério das coisas. Com cem anos, serei um artista maravilhoso. E quando eu tiver cento e dez, tudo o que eu criar: um ponto, uma linha, tudo será vivo.

Peço aos que viverem tanto quanto eu que vejam como cumpro minha palavra.

Escrito na idade de sete e cinco anos por mim, outrora Hokusai, hoje Gwakio Rojin, o velho louco pelo desenho.


Guy de Maupassant: de "Sur l'eau"

Este diário não contém nenhuma história e nenhuma aventura interessante. Tendo feito, na última primavera, um pequeno cruzeiro pelas costas do Mediterrâneo, diverti-me escrevendo, cada dia, o que vi e o que pensei.

Em suma, vi água, sol, nuvens e rochas – não posso relatar outra coisa – e pensei simplesmente, como se pensa quando a vaga nos embala, nos entorpece e nos carrega.


Theodor Adorno: de Minina moralia

Rien faire comme une bête [nada fazer como um bicho], deitar na água e calmamente olhar para o céu, ‘ser, nada mais, sem qualquer determinação ou realização ulterior’ poderiam tomar o lugar de processo, ato, realização, e assim verdadeiramente cumprir a promessa da lógica dialética de desembocar em sua origem. Nenhum dos conceitos abstratos chega mais perto da utopia realizada do que o da paz eterna.


Haroldo de Campos: de "Poesia e modernidade. Da morte do verso à constelação. O poema pós-utópico"

A experiência concretista, como experiência de limites, ensinou-me a ver o concreto na poesia; a transcender o “ismo” particularizante, para encarar a poesia, transtemporalmente, como um processo global e aberto de concreção sígnica, atualizado de modo sempre diferente nas várias épocas da história literária e nas várias ocasiões materializáveis da linguagem (das linguagens). Safo e Bashô, Dante e Camões, Sá de Miranda e Fernando Pessoa, Hölderlin e Celan, Góngora e Mallarmé são, para mim, nessa acepção fundamental, poetas concretos (o “ismo” aqui não faz sentido).


Manuel Bandeira: "O rio"

O rio

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.



Sophia de Mello Bryner Andersen: Biografia

Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no vento.

Sophia de Mello Bryner Andresen: O poema

O poema me levará no tempo
Quando eu não for a habitação do tempo
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Sophia de Mello Bryner Andresen: Mar

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

As praças-fortes foram conquistadas
Por seu poder e foram sitiadas
As cidades do mar pela riqueza

Porém Cacela
Foi desejada só pela beleza

Sophia de Mello Bryner Andresen: Terror de te amar
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Sophia de Mello Bryner Andresen: Traduzido de Kleist
Dizem que no outro mundo o sol é mais brilhante
E brilha sobre campos mais floridos
Mas os olhos que vêem essas maravilhas
São olhos apodrecidos

Sophia de Mello Bryner Andresen: As Três Parcas
As três Parcas que tecem os errados
Caminhos onde a rir atraiçoamos
O puro tempo onde jamais chegamos
As três Parcas conhecem os maus fados.

Por nós elas esperam nos trocados
Caminhos onde cegos nos trocamos
Por alguém que não somos nem amamos
Mas que presos nos leva e dominados.

E nunca mais o doce vento aéreo
Nos levará ao mundo desejado
E nunca mais o rosto do mistério

Será o nosso rosto conquistado
Nem nos darão os deuses o império
Que à nossa espera tinham inventado.

Pedro Salinas: No te veo
No te veo. Bien sé
que estás aquí, detrás
de una frágil pared
de ladrillos y cal, bien al alcance
de mi voz, si llamara.
Pero no llamaré.
Te llamaré mañana,
cuando, al no verte ya
me imagine que sigues
aqui cerca, a mi lado,
y que basta hoy la voz
que ayer no quise dar.
Mañana... cuando estés
allá detrás de una
frágil pared de vientos,
de cielos y de años.

Não te vejo
Não te vejo. Bem sei
que estás aqui, atrás
de uma frágil parede
de ladrilhos e cal, bem ao alcance
da minha voz, se chamasse.
Mas não chamarei.
Chamarei amanhã,
quando, ao não te ver mais
imagine que continuas
aqui perto, ao meu lado,
e que basta hoje a voz
que ontem eu não quis dar.
Amanhã... quando estiveres
lá atrás de uma
frágil parede de ventos,
de céus e de anos.

Omar Khayyam/Edward Fitzgerald: do Rubayat
XXIII

Ah vem, vivamos mais que a Vida, vem,
Antes que em pó nos deponham também,
Pó sobre pó, e sob o pó, pousados,
Sem Cor, sem Sol, sem Som, sem Sonho – sem.


Tradução de Augusto de Campos
XXIII

Ah, make the most of what we yet may spend,
Before we too into the Dust descend;
Dust into Dust, and under Dust, to lie,
Sans Wine, sans Song, sans Singer, and -- sans End.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

NÃO HAVERÁ OFICINA HOJE

PREZADOS ALUNOS,

LAMENTO INFORMAR QUE, EM CONSEQUÊNCIA DE UMA FORTE GRIPE, NÃO ME ENCONTRO EM CONDIÇÕES FÍSICAS DE DAR AULA HOJE.

ANTONIO CICERO



domingo, 4 de setembro de 2011

Aula de 25 de setembro


Caros alunos,

na aula do dia 5 de setembro, farei uma exposição e explicação da tese que apresentei na conferência "Poesia e Preguiça", apresentada na ABL como parte do ciclo de conferências "Mutações: Elogio à Preguiça".

Como combinado, deixem, por favor, no espaço destinado a comentários a esta postagem, os exercícios que tiverem feito.